domingo, 5 de dezembro de 2010

Os 7 Pecados Mortais...na Crise

O Papa Gregório Magno compilou no século VI os Sete Pecados Mortais apresentados pelo monge Euagrios Pontikos dois séculos antes. A lista apresentada foi a seguinte:

1) Gula
2) Avareza
3) Inveja
4) Ira
5) Soberba
6) Luxúria
7) Preguiça

Esta listagem tradicional dos “sete pecados capitais” pode funcionar como uma boa maneira de categorizar os diferentes tipos de pecados que existem. Quase todo o tipo de pecado ou tentação pode ser listado sob uma das sete categorias.

(em Espanhol)


E como se aplica um conceito tão intrinsecamente Cristão à crise económica actual?

Comecemos pelo mais evidente.

· Avareza
A Avareza, também conhecida por Ganância, caracteriza-se por uma forma de ambição desmedida. E foi por ambição desmedida que se cometeram loucuras desmedidas na economia mundial.
O esquema é simples: os bancos começaram a dar crédito-à-habitação não apenas a quem tinha condições de o pagar (segmento de clientes conhecido por prime), mas também a todos os que provavelmente, mais cedo ou mais tarde, falhariam o pagamento da prestação (segmento conhecido por subprime). Chegaram até a criar empréstimos que o Banco já sabia à partida que nunca seriam pagos, designados por créditos NINJA (do inglês No Income, No Job, no Assets).


Igualdade de oportunidades? Generosidade bancária? Quase é o que parece. Mas foi precisamente o contrário.


Esta loucura assentou numa táctica e num pressuposto:
O pressuposto era de que o mercado imobiliário subiria até ao infinito suportando os balanços dos bancos. A táctica era esconder todo esse “lixo” (as dívidas que haviam para pagar) em produtos exportados para todo o sistema bancário mundial (produtos esses que outras empresas ou investidores compraram).
Acreditava-se que “crédito fácil aumenta a procura, logo aumentam os preços do imobiliário”.
Parecia virtuoso!
Estava viciado.

· Gula
A Gula é a consequência natural do pecado anterior. Se a procura do lucro é o combustível do capitalismo, então os capitalistas despejaram gasolina por si abaixo. Não bastava ter lucros e crescer, era preciso que se crescesse RÁPIDO e MUITO!
A pressão dos analistas sobre as empresas criou a exigência dos lucros impossíveis. Surgiu a ditadura do irrazoável nos crescimentos - já não de um - mas de dois dígitos trimestre a trimestre. Gráficos de colunas cada vez maiores e as ordens de grandeza tinham de desconhecer valores abaixo do “milhão”.
Era algo obviamente insustentável.

· Inveja
Como é que alguns executivos estão tão bem, quando as suas empresas estão tão mal? – pergunta-se.
Sim, é natural ter-se esta dúvida e consequente estupefacção. Para tal, basta olhar os casos:
- Ano de 2007. A Lehman Brothers distribuiu 5,7 mil milhões de dólares (quantos zeros mesmo?!) em prémios de desempenho aos seus gestores. Em 2008 este óptimo desempenho culminou na maior falência de sempre dos Estados Unidos.
- O ex-presidente da Citigroup recebeu 10 milhões de bónus mais um milhão e meio por ano de reforma. Curiosamente as acções deste grupo perderam 70% do seu valor nesse mesmo ano.
- O CEO da Merrill Lynch reformou-se com 161 milhões de dólares por mérito reconhecido. Esta empresa foi salva da falência ao ser comprada ao desbarato pelo Bank of America.
É indigno que exista este abismo colossal entre os ganhos dos gestores face ao pessoal (por isso) considerado “menor”.
É ainda mais ultrajante que aqueles que contribuíram para a queda das empresas ou pelo menos não conseguiram impedir o seu colapso recebam um cêntimo que seja.
Mas o mote é sempre o mesmo: quanto mais melhor… e se for para mim, doa a quem tiver de doer.

· Vaidade
Poucas são as actividades legais que permitem ganhar tanto dinheiro quanto os cargos de direcção e gestão de grandes empresas. O mesmo se aplica aos pesos-pesados de investidores na banca. O dinheiro costuma trazer estatuto e este aliado a um cargo de reconhecimento facilmente gera em soberania e ostentação.
Mas isso levou muitos ao deslumbramento, a um sentimento de invulnerabilidade ao risco, à gestão para impressionar mais do que para servir. E estes gestores de tanto se ofuscarem no seu próprio brilho, não repararam que já tinha ficado noite. Criaram-se mega castelos de cartas que ruíram ao mínimo sopro.

· Luxúria
A luxúria aqui está na forma leviana como os administradores jogaram com o dinheiro dos outros – e perderam. Dos investimentos dissimulados que ludibriaram quem menos sabia. No aproveitamento obsceno do que não lhes pertencia para seu próprio proveito.

· Preguiça
Tudo isto acontecia enquanto os que podiam ter feito alguma coisa se apresentavam laxistas e indiferentes. Passou tudo debaixo dos seus narizes, dos deles e também dos nossos.

· Ira
É o que sobra.
A ira dos que perderam o dinheiro ou o emprego e dos contribuintes que estão a pagar os erros dos outros.


E para finalizar… a definição que Mahatma Gandhi apresentou para os Sete Pecados Mortais do mundo moderno (que ainda permanece):
o Riqueza sem trabalho;
o Prazer sem consciência;
o Conhecimento sem carácter;
o Negócios sem moral;
o Ciência sem humanidade;
o Religião sem sacrifício;
o Política sem princípios.



(Partes deste post basearam-se e apresentam transcrições de um artigo de opinião de Pedro Santos Guerreiro - Director do Jornal de Negócios).

4 comentários:

marigold disse...

Para combater os 7sete pecados mortais do mundo moderno elencados por Ghandi proponho as 7 virtudes elencadas por um dos maiores poetas da Idade Média - Prudêncio:
o Riqueza sem trabalho: um pouco de diligência, objectividade, esforço como oposição à preguiça que nos faz acatar sem reagir;
o Prazer sem consciência: um pouco de castidade, de simplicidade como oposição à luxúria que nos faz perder os limites da nossa liberdade;
o Conhecimento sem carácter: um pouco de paciência, de serenidade, paz como oposição à ira, à utilização indevida do conhecimento enquanto poder;
o Negócios sem moral: um pouco de temperança, moderação, auto controlo como oposição à gula do dinheiro, da especulação;
o Ciência sem humanidade: um pouco de generosidade, despreendimento, algo entre a vontade e o entendimento como oposição à avareza para criar uma ciência como vector e não como veículo de utilização indevida;
o Religião sem sacrifício: um pouco de caridade, de amar o próximo como a nós mesmos como oposição à inveja de forma a concentrarmo-nos mais na nossa fé;
o Política sem princípios: um pouco de humildade e respeito pelo próximo como oposição à soberba porque a humildade é dos princípios mais fundamentais na vida em sociedade.
Estas 7 virtudes fazem parte do seu livro Psychomania, a "Batalha das Almas", onde é descrita a luta pela fé ;)

marigold disse...

anyway.. keep writing.. you could become a modern activist ;)

Arine disse...

Elencar virtudes para combater pecados parece-me a forma mais eficaz de activismo. :)

Se identificamos o negativo, mais importante então é direccionarmos o positivo.

Cheguemos lá ou não, pelo menos temos direcção.

Desconhecia o livro. Great info! :) Thanks

marigold disse...

é.. foi um exercício engraçado e eu gosto de exercícios ;) Ver o que dizia o Ghandi e ver qual a virtude para contra-atacar. Afinal devemos combater com virtudes e não com mais pecados, isn't is? At least we try ;) and to try it's the first step. O título do livro é giro, foi o que mais gostei - a batalha das almas