quinta-feira, 25 de novembro de 2010

Dia Internacional Contra a Violência Doméstica

Hoje é o Dia Internacional Contra a Violência Doméstica. Tentei saber quando começou, como começou, exactamente o que é que abrange, mas não consegui perceber. Informação difusa ou eu é que não soube procurar.

Ainda assim, a maior parte dos sites informativos apresentavam imagens de violência doméstica em que a vítima representada era uma mulher jovem (ou relativamente jovem). Fez-me pensar que talvez fosse um dia mais dirigido à violência conjugal sobre a mulher, mas pelos vistos é mais generalista que isso. Parece-me.

Mas parece-me também que a sê-lo, então, está um pouco deturpado. Porque a violência doméstica terá números bem superiores aos já impressionantes valores da violência conjugal em que o agressor é homem e a vítima mulher. A violência doméstica abrange todos os elementos de um agregado e assim sendo... temos a violência contra os idosos, as crianças, a de casal, a de pais, a de irmãos, a de netos....e normalmente quando uma se verifica, verificam-se várias.

Mas, diria que talvez raro seja o lar que não tenha testemunhado violência doméstica. A frequência dessa violência será provalvelmente o factor mais agravante e não tanto a sua existência.

Afinal, o que é a violência? Um berro? Um estalo? Um empurrão? Um murro? Pontapés? Tudo junto? É o ser todos os dias? Uma vez por ano? É uma atitude mais do que propriamente um acto? Ou é a gravidade do acto? Um berro todos os dias vale menos do que uma bofetada de dois em dois anos?

Quase nunca as coisas são claras e de fácil leitura. O mau raramente é sempre mau e o bom tampouco é sempre bom. Isso é o que aparece nos cartazes. Essa imagem estanque de homem grande agressor e mulher frágil pisada. Mas nem ele tem de ser grande e mau, nem ela tem de estar de joelhos pisada. E é esse não-permanente estado que normalmente mantém a maioria das relações abusivas, quando existe poder de decisão para lhe pôr um fim. Ele (ou ela) hoje bateu-me, mas ontem tratou-me bem.

O que realmente me choca na violência é o aproveitamento de uma desigualdade. Quase sempre (será sempre?) existe uma desigualdade que dá vantagem ao agressor: física, intelectual, económica, psicológica, emocional ou até circunstancial. Quando esta condição não está presente a violência é praticamente passional e/ou momentanea...uma pessoa passa-se da cabeça numa discussão e age irreflectidamente. É grave? Pois...dependerá... Um acto isolado pode provocar danos que muitos juntos não provocam. Seria "abusivo" quantificar um abuso.

Ou a violência pode ainda assumir uma forma de agressividade que não é necesariamente negativa, mas uma expressão energética mais enfática e dominadora, digamos. A nível conjugal, se não existir uma predominância de desigualdade de poder, até pode ser interessante:

Aqui temos um video popularista (já chega de Bach e Strauss...passamos a Shakira para não cairmos em Snobismos), no qual existe agressividade. E a ser real, haveria vítima? Ou é uma agressividade sem violência?

3 comentários:

marigold disse...

Well este vídeo é um doce comparado com as palavras carregadas de simbologia que enunciaste no texto..Violência, agressividade, abuso... Na minha perspectiva quase tudo depende muito do contexto e da frequência - alguém que viva em constante violência tenderá maioritariamente a replicar esse modelo e a considerar os seus actos não agressivos. Já alguém habituado a um contexto não violento poderá ficar assustado com um simples berro ou par de estalos. Em qualquer dos casos, a violência é de evitar, a violência enquanto "algo que causa dano a outro alguém ou outra coisa". Pior ainda a violência contra si mesmo. Mas mais do que agressividade existe aí no meio a Agressão, que essa sim também é uma espécie de "dano contra outrém", um comportamento. A Agressividade por sua vez é uma espécie de instinto que pode nunca ter consequências visíveis e imediatas. Uma certa agressividade às vezes é até considerada vantajosa em contextos de competição: ter um espírito agressivo é muitas vezes comparado a um esírito feroz que vai à luta. E lá vamos nós para o mundo dos animais que não nós, aqueles que andam para aí selvagens, aqueles que certamente não sabem o que é isso da Violência Doméstica (embora exista também a violência contra os animais...dentro do lar)

Arine disse...

É um doce porque gosto de contrastes! ;)

A violência é subjectiva...como os doces. Para alguns já tem açucar a mais, para outros não sabe a nada.

Concordo com alguém que disse (não sei quem) "viver é uma violência".

marigold disse...

Não posso deixar de acrescentar que foi o Fernando Pessoa que disse algo semelhante no seu poema "Afinal":
Afinal, a melhor maneira de viajar é sentir.
Sentir tudo de todas as maneiras.
Sentir tudo excessivamente,
Porque todas as coisas são, em verdade, excessivas
E toda a realidade é um excesso, uma violência,
Uma alucinação extraordinariamente nítida
Que vivemos todos em comum com a fúria das almas,
O centro para onde tendem as estranhas forças centrífugas
Que são as psiques humanas no seu acordo de sentidos.
(....)